quinta-feira, 6 de novembro de 2014

QUINTA DE POESIA



Na próxima quinta-feira, dia 13, às 20hs será o lançamento do primeiro livro de poesias de meu irmão poeta na Feira do Livro de Porto Alegre. É o mesmo poeta que todas as quintas está aqui no blog!




O Poeta Paulo Corrêa-Meyer,
Das palavras um sommelier,
Pediu-me, depois de um vinho,
Que escrevesse um textinho
Falando de sua coleção de poesia.
Eu, honrado, aceitei com alegria,
E aqui vai para o que der e vier
O pedido comentário. Já adivinho
Que o bom Paulo com sua sabedoria
Perdoará se lhe falhei no mister.

Paulo Correa-Meyer é um intimista do etéreo. Na sua poesia o lírico invoca o imaginário, tendo pontes de familiaridade, âncoras na realidade. Realidade onírica mas também concreta. Encontra-se com o elefante debaixo da mesa, com o qual já nos encontramos. Agarra-se à boia que chamamos vida em uma crítica árdua da ignorância e crueldade humana. Descreve a harmonia da tristeza e indaga como navegar neste nevoeiro.

Estas poesias, trabalho de muitos anos e de muita sensibilidade, transmitem a angústia do poeta, deslocado de seu meio, forçado a viver o pragmatismo da existência, mas habitando o planeta da nostalgia e da saudade. O aniversário de Gabriel, a louvação de Gus envolvem o leitor de forma vicária, trazendo-nos à intimidade da família e da ausência.

As construções elegantes, abstratas ou não, demonstram um profundo respeito pela língua portuguesa. Essa é qualidade rara nas pessoas vivendo o exílio linguístico, vivendo o quotidiano em um idioma adventício, uma linguagem distante daquela recebida dos pais e do país que nasceu. Há expressões em francês e inglês porém não há galicismos e anglicismos. Trompe l’oeil, Hommage e Flash-back cabem confortavelmente, vícios de linguagem não há.

Ao longo das poesias vamos conhecendo as criaturas queridas, suas datas e eventos, as lembranças e as esperanças. O Alfredo-gato, o sorriso de Katharina, Emily, Mário e o Dez de Março vão penetrando nossa consciência e despertando a imaginação do leitor. Todos temos nossas nostalgias e melancolias. Esta coletânea oportuna de poesias as toca, estimula o sentimento. A emoção resultante não é lástima, é esperança, é até alegria.

O amor incerto, duvidado, às vezes confuso vai se expressando:surge às margens, domina, lamenta, conclui. Às vezes é pleno, em outras ocasiões é sutil. A tortura doce que vem servindo de combustível e substrato aos poetas de todos os tempos recebe aqui tratamento de colírio da alma com dose de boa intensidade.

Esta poesia não é alexandrina. A métrica não governa, a rima está presente e é bem comportada  mas o ritmo que impera é o conceito, a imagem, a metáfora e a imaginação. A forma tem rigor, disciplina. Percebe-se o ritmo poético no conjunto dos pensamentos e das expressões. Estes versos são para quem sente. Não devem ser lidos com pressa. Podem ser servidos a qualquer hora em qualquer ordem. Alguns podem ser lidos em voz alta, mas a maioria são para reflexão lenta, calada, para meditação coroada de ternura e angústia.


Julio Casoy

Wayne, 2014

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